Este Blog tem como objetivo falar sobre a Ditadura Militar brasileira, mas eu não poderia deixar de publicar aqui um texto em memória de RINGO que nos deixou na última sexta.
Estava
tudo escuro, mas os sons e os cheiros eram bem vivos. Tudo era desconhecido;
tudo era uma prisão. Um passo pro lado e um choque contra parede. Caso o passo
fosse dado para o lado esquerdo bateria em outra parede; para trás ele teria
que dar dois passos até encontrar a terceira parede. Os cheiros vinham mais da
frente onde estava uma grade. Havia outros como ele em diversas prisões do
tipo. Levava a vida a comer, a mijar e a cagar. Não posso afirmar o que lhe
vinha à mente, quais eram seus pensamentos mais loucos. Um dia, pensou, penso eu,
que tomaria um banho de sol, mas ele não ficou no pátio. Saiu do presídio e
fora apresentado a um cara que disse ser seu amigo e que poderia ir com ele,
que teria todas as suas necessidades supridas, que ficaria tudo bem.
Teve
medo. Encolheu-se a um canto do carro. Não sabia se tinha esse medo ou alegria.
O futuro era incerto. Tão jovem... Tão dependente e a mercê de alguém que nem
conhecia. Chegou ao novo lar. Os cheiros eram diferentes agora. Havia cheiro de
grama, de paredes mais distantes, de gente que caminhava e talvez até se
governasse. Tantos cheiros e sons novos.
Recebeu abraços. Ele se afeiçoou
aos amigos novos e se afeiçoaram a ele; eram um casal e um rapaz em que passava
mais tempo com ele e, talvez por isso, também se desentendia mais com este
último. As divergências entre eles, por vezes, eram resolvidas por aquele que
mais alto se expressava ou mesmo pela força. O juiz era aquele que o trouxe
para sua nova morada, mas não decidia quem estava certo e quem estava errado;
apenas determinava que a confusão parasse imediatamente. Obedecia. Tinha
respeito pelo cara que o tinha tirado da prisão. Gostava de ouvir sua voz. Eram
amigos e os dois faziam um ao outro rir. O tempo foi passando. Passaram-se
poucos anos e... Um dia sentiu dor. O tempo dele nesse mundo chegava ao fim. O
rapaz que estava sempre com ele percebeu primeiro que tinha algo errado, mas
não sabia como avisar ao cara que prometera que tudo estaria bem. Talvez tenham
se passado horas.
O cara que prometeu que tudo
ficaria bem chegou em casa após um dia de trabalho e viu que nada estava bem.
Levou-o ao hospital e no dia seguinte a vida já o deixava. Foi muito de
repente... Deixa saudade. Até uma outra vida!!
O importante é que ele foi muito feliz aí, com vocês.
ResponderExcluirQue pena, Marciro!
ResponderExcluirFiquei muito triste por isso, cara!