domingo, 10 de julho de 2016

Em memória de Ringo



Este Blog tem como objetivo falar sobre a Ditadura Militar brasileira, mas eu não poderia deixar de publicar aqui um texto em memória de RINGO que nos deixou na última sexta.


                                                           

               Estava tudo escuro, mas os sons e os cheiros eram bem vivos. Tudo era desconhecido; tudo era uma prisão. Um passo pro lado e um choque contra parede. Caso o passo fosse dado para o lado esquerdo bateria em outra parede; para trás ele teria que dar dois passos até encontrar a terceira parede. Os cheiros vinham mais da frente onde estava uma grade. Havia outros como ele em diversas prisões do tipo. Levava a vida a comer, a mijar e a cagar. Não posso afirmar o que lhe vinha à mente, quais eram seus pensamentos mais loucos. Um dia, pensou, penso eu, que tomaria um banho de sol, mas ele não ficou no pátio. Saiu do presídio e fora apresentado a um cara que disse ser seu amigo e que poderia ir com ele, que teria todas as suas necessidades supridas, que ficaria tudo bem.
                Teve medo. Encolheu-se a um canto do carro. Não sabia se tinha esse medo ou alegria. O futuro era incerto. Tão jovem... Tão dependente e a mercê de alguém que nem conhecia. Chegou ao novo lar. Os cheiros eram diferentes agora. Havia cheiro de grama, de paredes mais distantes, de gente que caminhava e talvez até se governasse. Tantos cheiros e sons novos.
Recebeu abraços. Ele se afeiçoou aos amigos novos e se afeiçoaram a ele; eram um casal e um rapaz em que passava mais tempo com ele e, talvez por isso, também se desentendia mais com este último. As divergências entre eles, por vezes, eram resolvidas por aquele que mais alto se expressava ou mesmo pela força. O juiz era aquele que o trouxe para sua nova morada, mas não decidia quem estava certo e quem estava errado; apenas determinava que a confusão parasse imediatamente. Obedecia. Tinha respeito pelo cara que o tinha tirado da prisão. Gostava de ouvir sua voz. Eram amigos e os dois faziam um ao outro rir. O tempo foi passando. Passaram-se poucos anos e... Um dia sentiu dor. O tempo dele nesse mundo chegava ao fim. O rapaz que estava sempre com ele percebeu primeiro que tinha algo errado, mas não sabia como avisar ao cara que prometera que tudo estaria bem. Talvez tenham se passado horas.
O cara que prometeu que tudo ficaria bem chegou em casa após um dia de trabalho e viu que nada estava bem. Levou-o ao hospital e no dia seguinte a vida já o deixava. Foi muito de repente... Deixa saudade. Até uma outra vida!!

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